Friday, June 22, 2007

Fénix


Estranho. Falo contigo mas não te vejo. Por trás de servidores, cabos coaxiais ou de fibra óptica, te escondes, saltando sob a forma de bits e bytes de satélite em satélite. E no entanto pareço conhecer-te melhor do que ninguém. Nunca te vi. Contudo tento imaginar as tuas formas naquelas imagens difusas que me envias, no teu discurso quero vislumbrar estímulos que me estejas a direccionar, no tempo que me fazes esperar por uma resposta procuro traçar o teu perfil psicológico, identificar a tua personalidade, como se te procurasse por algum crime. Passional. Talvez não queira passar daí, por recear a desilusão futura. Desenho um mapa mental, em que cada tecla representa um pouco da tua pele. As tuas palavras surgem no écran. Traduzo-as para impulsos, procurando algo que me acorde desta insalubridade, que me salve deste estado que exponencialmente evolui para a obsessão doentia e paradoxal, causada pela tua própria essência, que tanto me alimenta como me sangra. Aguardando em melancolia, por um clímax quase utópico, potenciado por cada segundo de indiferença, atinjo o delírio supremo, vendo em ti uma fénix que eu mesmo torturo e amo, capaz de se regenerar após cada contacto abrasante com a minha personagem destrutiva, qual montanha-russa manipuladora...