Tuesday, March 22, 2011

A planície, o carrossel e a montanha...


Muitos de nós idealizamos uma vida calma. Desejamos que esta seja como uma planície. Que significa isso? Continuidade? Estabilidade? Ou antes uma vida sem percalços de maior, correndo o risco de se tornar enfadonha? Em que os eventos ocorrem segundo um plano meticuloso, em que não há grandes surpresas? Na qual atingimos os nossos sonhos de forma tranquila, metódica e progressiva? Conseguirá ela manter-se interessante, ao longo de uma linha recta? Ou tornar-se-á insípida? A sua linearidade contribuirá para manter a sua força? Ou cairá ela na monotonia, motivada por uma reinante paz que paradoxalmente causará a sua ruptura?

Eventualmente, a nossa vida será marcada por alguns percalços. Por mudanças. Por oscilações. O que é normal? Uma vida agitada e turbulenta? Ou uma vida calma, e quiçá sedentária? Talvez ambas.

Talvez precisemos de alternar momentos de calma com momentos de maior intensidade. Para nos sentirmos vivos. Talvez precisemos de sentir diferentes estados de espírito em determinados momentos. De estabelecer uma harmonia entre descargas de adrenalina e a pacatez a que estamos habituados. Saber relaxar. Saber vibrar. Apreciar a placidez de um lago ou a vivacidade de um mar bravo e revolto.

De repente damos connosco dentro de um carrossel. Acidentalmente ou de forma planeada. Por iniciativa própria ou por arrasto. Por impulso ou por sugestão. À espera de uma emoção "controlada" ou surpreendidos por um momento turbulento. E ali andamos, sacudidos de um lado para o outro, num turbilhão desenfreado, dentro da "mítica" chávena que nos agita como se de um líquido nos tratássemos. Tudo isto enquanto rodopiamos ao ritmo de uma seca ondulação que nos eleva e baixa numa previsível e repetitiva cadência.
Tudo isto dura uns minutos. O seu efeito é momentâneo. Poderemos até colocar outra moeda caso queiramos repetir a experiência. Mas contudo, esta viagem deixará no nosso íntimo a sua marca. Sob a forma de recordações gravadas na nossa memória.

Mas por vezes embarcamos numa intensa e poderosa jornada. Mais susceptível de deixar cicatrizes na nossa alma. Quando tal acontece, podemos dizer que temos uma verdadeira montanha à nossa frente. Para conquistar. Cheia de escarpas e vertentes, penhascos e íngremes e escorregadias encostas. Ocasionalmente, optamos por evitar este longo e perigoso caminho. Mas por vezes, embrenhamo-nos nele, mesmo que não seja essa a nossa intenção. E lá nos encontramos. No meio de um nevão. Enregelados. O nosso guia abandona-nos a meio caminho, dizendo que não nos acompanha caso queiramos aventurar-nos pela borrasca afora. Nem mais um metro. Só nos resta permanecer na base. O último posto de sobrevivência. Entre o sopé e o cume. Ali entalado, correndo o risco de ser levado por uma eminente derrocada. Uma avalanche. Ou em alternativa, descer para a segurança, fazendo o longo e perigoso caminho de regresso. Ou lutar. Lutar para atingir o cume e a glória. Arduamente. E dizer "Eu hei-de hastear a minha bandeira no cume. Eu vou conquistar esta montanha."

Por vezes, aquilo que julgamos encontrar, na realidade é algo totalmente diferente. Uma pachorrenta planície transforma-se do nada numa viagem pelo carrossel, ou até mesmo numa arriscada aventura por montes e serras alpinas. Só nos resta viver esses momentos dando sempre o nosso melhor. Juntos.

Sunday, February 06, 2011

Noite de Âmbar



Pensando o óbvio. Perante a negritude da noite, os candeeiros reluzem, iluminando baçamente a estrada, dando um tom ocre ao asfalto molhado.

O comboio desloca-se depressa, nesta noite revestida a tons sépia. No seu interior, parecemos bonecos coloridos, aprisionados numa redoma, circundada por um jardim de cobre, estanho e argila.

A luz interior é de um branco enfermo, que perdeu há muito a sua vivacidade, apresentando agora uma mescla de pálidos tons esverdeados e azulados.

A visão através da janela proporciona uma perspectiva alargada das ruas, mas paradoxalmente redutora, perante a dificuldade de contemplar as suas formas, graciosas ainda há algumas horas atrás.

Só me resta a minha imaginação. Só recorrendo a ela conseguirei vislumbrar algo para além desta Noite de Âmbar.


Road Movie


The closing of a door leads to the opening of another. The feeling of entrapment that was weighting in my shoulders is now gone, as I leave home and head for the car. As I sit, I sense an aura of mystical proportions. The dark road takes me in a journey into the unknown, through a lost highway towards the realm of bizarre. The dusk carries a misty breeze. It mixes with the dust that flows from the surrounding desert. The headlights cut through the darkness of the foggy night as I head into the void. Odd occurrences await me in this parallel dimension. The road is long, by my will matches it.