Quatro anos se passaram. Muita coisa mudou.
A realidade é tão cruel que faz com que o passado se assemelhe a um sonho. Um sonho longo que se esvaiu em fumo, eclipsando-se no éter como se tivesse sido algo momentâneo. Um fait-divers utópico, um acaso do destino que representou momentos de pura felicidade, contrastantes com a banalidade reinante dos tempos actuais. Interrogações surgem.
Quem sou? Quem és? Quem somos?
Para onde vamos? Onde estamos? Como chegamos aqui?
A jornada foi aprazível. Auspiciosa e bem sucedida, embora com os seus momentos turbulentos. Mas de repente deparo-me com uma barreira de gelo e pedra. Sólida e impenetrável.
Elaboro planos para derrubar esta fortificação. Mas quando postos em prática, nada mais conseguem do que conduzir-me a um estado de frustração.
Como um paladino ouso desafiar esta melancolia, mas rapidamente esta
se converte em incerteza e desespero. O meu aríete não consegue perfurar
as portas desta fortaleza que persiste em atormentar-me.
Penso e repenso. Como vencer as muralhas desta construção fortificada, para que possa iluminá-la com a chama do Olimpo, que transporto na minha tocha?
Chego a desesperar. Obstáculos sucessivos são lançados. A fortaleza actualiza-se, protege-se, melhora as suas defesas, armas e contramedidas. Executa upgrades, expande-se e reprograma-se como se de um software ou hardware se tratasse. Espectros assustadores e gárgulas vigilam, rondando pelos seus cantos. Encontro fossos povoados por caimões, pontes levadiças e portões maciços. Caso estes sejam vencidos, trajectos labirínticos teoricamente intransponíveis aguardam.
Tento descobrir quem habita tão frígida e complexa estrutura. Vislumbro um rosto que me observa da torre mais alta. Tento comunicar com esta entidade. Segundo ela, sou bem-vindo à sua propriedade.
A porta abre-se. Entro. Atravesso um átrio semi-deserto povoado apenas por corvos. Nele ecoam sons que me transportam através de dimensões espaço-temporais, trazendo recordações e sentimentos mistos.
Subo torre atrás de torre, por escadarias que chego a questionar não terem fim. Por fim, chego ao meu destino. A torre mais alta.
Entro porta adentro. Vejo um rosto familiar. Uma fêmea que me despertou paixão noutros tempos. Que fez parte do meu sonho.
Tocando numa roca de fiar, lentamente a vejo entrar num torpor, qual Bela Adormecida. Tento acordá-la, sacudindo-a para que saia do seu estado de inação. Mas a inércia é permanente. Nem o beijo do Príncipe Encantado consegue arrancá-la da catatonia causada por este feitiço poderoso.
Interrogo-me porque me terá deixado entrar, se tencionava privar-me da sua companhia.
Olho em redor. Sento-me a um canto, numa velha poltrona. E espero pelo dia em que volte a acordar.
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