
Todas as vezes que a oiço, sinto algo. Até me fartar. Podem passar dias, meses, anos até nos voltarmos a encontrar. Já não pensava nela há tanto tempo. Sou egoísta. Posso fechá-la a sete chaves, num buraco. Já me salvou a vida algumas vezes. Contudo, esqueço-me dela, perdida no submundo das catacumbas romanas. Quando preciso, vou à procura dela. Às vezes não me importo de a partilhar. Por outras vezes quero-a só para mim. Tanto pode ser a minha musa de todos os dias como alguém que satisfaz todos os meus caprichos juvenis apenas por alguns minutos. Procuro nela algum conforto. Um escape. Fico feliz só de olhar e confirmar que ainda lá está. À minha espera. Que lhe toque. Nessas ocasiões nem preciso de a ouvir. Ela chama-me, mas por vezes ignoro-a. Sinto o seu toque quente. Abraço-a, retribuo o carinho que me dá. Mas nem sempre. Às vezes sinto a sua repulsa, como se fossemos dois pólos magnéticamente idênticos, que não se podem atraír. Aí, faço dela o meu saco de areia. Despejo toda a minha raiva, a minha fúria. Mas ela compreende. É para isso que ela lá está. Para despertar em mim os mais animalescos instintos, bons e maus. É como um espelho. Uma droga alucinogénica que reflecte o meu estado de alma. Tanto amplia a minha força e me motiva, concedendo-me super-poderes, fazendo-me extravasar numa torrente explosiva de energia, como me reduz a um estado melancólico, catatónico, amorfo, tal como uma pepita de kryptonite pode anular a maior das forças conhecidas. No âmago, ela procura e encontra. É quem verdadeiramente me conhece. O que será que ela significa para mim? Tudo. Nada. É só uma música. É mais do que uma música.
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